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Crítica: Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald


A nova parcela do fenômeno "Animais Fantásticos" aborda o perigoso discurso de Gellert Grindelwald, abrindo margens para análise do discurso e trazendo as possibilidades narrativas que vão de contra o canon de Harry Potter.

Conteúdo livre de spoilers.

Baseado nos roteiros do Mundo Mágico de J.K. Rowling, o filme “Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald” entrega com êxito a segunda parte da nova história, mostrando o poder e a genialidade de uma autora que vem expandindo seu universo de maneira orgânica. À convite da Warner Bros., a House Hogwarts teve o prazer de assistir, em primeira mão, as novas aventuras de Newt Scamander, que mergulha profundamente em temas sociopolíticos, mostrando que as relações interpessoais estão cada vez mais em evidência em sua jornada.

Nesse quesito, se precisássemos escolher uma palavra que definisse o estado de espírito de todos que estavam na cabine de imprensa na última sexta-feira (09), a palavra seria: Estupefaça. Um ano se passou desde que Newt Scamander (Eddie Redmayne) chegou à Nova Iorque afim de realizar pesquisas para seu livro, em Animais Fantásticos e Onde Habitam, e as relações entre os personagens, que conhecemos junto com Newt nesta primeira parte, se ramificaram das mais variadas maneiras. Percebemos o quão frágeis as relações interpessoais, e o quão influenciáveis e fracos são aqueles que considerávamos os mais fortes e (possivelmente) íntegros. É justamente nesta redoma de relacionamentos que encontramos Gellert Grindelwald (Johnny Depp), encarcerado na sede do MACUSA, esperando pacientemente sua fuga, e consequentemente, o início da sua busca por Credence Barebone (Ezra Miller), sobrevivente dos fortes acontecimentos do ano anterior.


Entramos então no que poderíamos definir como um jogo de xadrez armado para o xeque mate: Alvo Dumbledore (Jude Law) recruta seu ex-aluno e amigo Newt Scamander para uma caçada desenfreada, a fim de proteger o Obscurial das garras de Grindelwald. Nessa caçada, encontramos Tina Goldstein (Katherine Waterston), a auror em ascensão do MACUSA, que não medirá esforços e nem movimentos para proteger Credence. O que os personagens não sabem, é que cada passo em falso, cada jogada perdida, Grindelwald avança, ganhando terreno, e recrutando seguidores para a sua causa.

Diferentemente de Animais Fantásticos e Onde Habitam, temos nesse filme, um clima cada vez mais sombrio e incerto. Grindelwald mostra-se um vilão mais construído, profundo, e portanto mais perigoso que Voldemort, transitando livremente por uma Paris conflituosa com as questões mágicas. É neste cenário que nos são apresentados novos personagens e lugares, alguns nomes conhecidos, e apesar do universo existente dentro da maleta de Newt, somos forçados juntamente com ele a explorar o mundo afora, e enfrentar perigos. Os novos animais que são inseridos na narrativa, dentre eles o Zouwu, merecedor de destaque pela beleza e voracidade e o Chupacabra, são alguns que na maior parte, ficam retidos dentro da maleta, deixando claro que agora os animais são apenas coadjuvantes da saga.

Os figurinos permaneceram sob o comando da grandiosa Colleen Atwood, ganhadora do Oscar no filme anterior, e a trilha sonora por James Newton Howard, fazendo com que se tornem um conjunto de fatores que funcionam perfeitamente, um verdadeiro deleite para os olhos e os ouvidos, porém a edição e a transição de cenas, deixam a desejar e nos deixam confusos quanto ao espaço-tempo em que a história se passa. Algumas cenas são escuras - aparentemente uma especialidade do Philippe Rousselot, exigindo dos telespectadores um pouco mais de atenção ao observar os detalhes. No que concerne ao roteiro, e nesse aspecto, diretamente ao trabalho da nossa querida J.K. Rowling, alguns personagens estão quase irreconhecíveis, passando por provações psicológicas, ou agindo de maneira que beiram a infantilidade. Por outro lado, a autora e roteirista vêm mostrando sua melhora na criação de pares românticos, e mostrando que não perdeu a mão com suas ótimas piadas.


Diante de uma chuva de informações, apresentação de novos personagens - alguns que simplesmente somem sem nenhuma cerimônia, e situações que batem de frente com o canon - conteúdo já consolidado na saga Harry Potter, o roteiro também nos presenteia com diversas reviravoltas e plots de explodir a cabeça. E se você sair da sala do cinema se perguntando quais são os reais crimes de Grindelwald, já que o vilão mantém suas mãos limpas, oferecendo todo o "trabalho sujo" para seus seguidores, não se preocupe. É justamente nesse aspecto que J.K. Rowling não mede esforços em (também) denunciar a hipocrisia e burocracia governamental, além de debater através de metáforas muito bem construídas, as questões do autoritarismo, da intolerância e do messianismo latente em nossa sociedade. Nossa volta à Hogwarts é reconfortante, chegando a marejar os olhos dos fãs que sentiam saudades do castelo, que permanece como costumávamos lembrar, porém percebemos que o Ministério da Magia tenta fazer a escola de quintal, sempre que pode. Para barrar esse autoritarismo que também é uma característica governamental, é que temos Alvo Dumbledore, sendo um ponto de resistência dentro da escola. E aqui fica um destaque para a atuação de Jude Law como Alvo Dumbledore: para quem achou que ele ficaria destoante como o professor e futuro diretor de Hogwarts, Law consegue reunir em si os aspectos mais marcantes de Richard Harris e Michael Gambon.

Em suma, Animais Fantásticos: Os crimes de Grindelwald é uma celebração ao Mundo Mágico de J.K. Rowling, impulsionado pela produção ainda mais arrojada dos estúdios Warner; desde a concepção de cada arte, pôster ou trailer, é notável o capricho da Warner Brothers com os fãs da saga, o que permite acreditar que o nosso otimismo continuará - muito provavelmente - nos próximos filmes da franquia.


Título: Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald
Direção: David Yates
Gêneros: Fantasia, Aventura
Data de lançamento: 15 de novembro de 2018 (2h 14min)
Classificação: ⭐⭐⭐⭐

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